A Arte de Neusa Veronezi

Ela é uma mulher de 70 anos, minha tia querida e amada, que sempre me cuidou como uma mãe cuida e zela por um filho. Neusa convive com uma malformação cortical, que lhe impõe algumas restrições de mobilidade, funcionalidade e comunicação. Ela sobrevive ao seu próprio corpo e usa-o, como pode, para se ser livre, produtiva, independente e feliz. Há, relativamente pouco tempo, Neusa descobriu a aquarela pelas mãos do querido amigo André Marques que lhe presenteou e ainda a presenteia com tinta, canson, pincéis e godet. Muito mais que isso, André ofereceu à Neusa uma nova forma de expressão, uma significativa ampliação das linguagens que podem traduzir o que pensa e sente. Com quase nenhuma instrução, o que essa artista tem feito é fazer desabrochar no papel as flores de múltiplas cores do lugar onde vive. Com pinceladas fortes como ela, a gente enxerga fácil toda uma variedade de flores de maio – suas preferidas -, além de dálias e muitas florzinhas sem nome e muito charme. Pela primeira vez no blog, apresento algumas reproduções de suas aquarelas.

Aquarela sobre canson 200, 21,0 x 29,7

Aquarela sobre canson 200, 21,0 x 29,7

Aquarela sobre canson 200, 21,0 x 29,7

Aquarela sobre canson 200, 21,0 x 29,7

Aquarela sobre canson 200, 21,0 x 29,7

O que você faz das suas próprias deficiências?

Hoje é o Dia Internacional da Pessoa com Deficiência. Há mais de duas décadas, a data foi escolhida pela ONU para promover ampla reflexão a respeito dos direitos da pessoa com deficiência. Seguindo este propósito, coloco-me a representar, apenas por um momento, o grupo de todos os demais membros da sociedade, cujas dificuldades não costumam ser classificadas como deficiências, no contexto atual em que vivemos, mas que impactam significativamente nossas relações humanas. Assim, dirijo-me humildemente, às pessoas com deficiências: Desculpe-me por aquele dia em que me esqueci de posicionar-me à altura dos seus olhos, para que pudéssemos conversar melhor. Desculpe-me por não lhe descrever corretamente o caminho, evitando tropeços e os obstáculos das ruas. Desculpe-me por não dirigir perguntas a você mesmo quando eu gostaria de lhe conhecer melhor… não percebi que é capaz de se comunicar, embora não possa falar. Desculpe-me por não saber manejar bem sua cadeira de rodas e me atrapalhar com os equipamentos e recursos, que são tão importantes para você. Desculpe-me por evitar olhar em seus olhos. Desculpe-me por não lhe proporcionar o mobiliário adequado para que estivesse mais confortável e pudesse agir plenamente. Desculpe-me por ter interpretado incorretamente seu comportamento e não lhe ajudar da forma como seria melhor para você. Desculpe-me pelas vezes em que subestimei sua capacidade de aprender e me ensinar. Desculpe-me por não ter disponibilizado a imagem que traduziria o que você estava sentindo naquela noite confusa. Desculpe-me. Buscarei afinar meu coração às lições diárias e silenciosas da superação das suas dificuldades e tratar de superar as minhas íntimas e tão numerosas deficiências.