Há dias em que é preciso viver
Das flores que se colhe
Das cores que pingam
E fazem folhas no papel
Das flores que eu colhi
Foi mais sutil me ver brotar.

Há dias em que é preciso viver
Das flores que se colhe
Das cores que pingam
E fazem folhas no papel
Das flores que eu colhi
Foi mais sutil me ver brotar.
Às vezes, é preciso fazer um jardim lá fora para vê-lo nascer cá dentro.
Bambuzá levim
Verdim que só
Uma maciez de verde
Que si imbalança mais levim que o ar
É uma dança que nem baruio faz
Mas é de ouví a música
Que a folha n’otra folha toca
E que o bambu n’otro bambu roça
É leve, leve, leve essa vida verde
E que leve, leve, leve todo o mal da gente.
Bambuzá, Nankim sobre papel, de Grace Donati.
Na semana passada eu estive, pela primeira vez, em Inhotim, o belíssimo Instituto de Arte Contemporânea e Jardim Botânico que fica em Brumadinho, Minas Gerais. Reconhecido como uma OSCIP (Organização da Sociedade Civil de Interesse Público) pelo Governo de Minas Gerais e pelo Governo Federal, o local tem um acervo de arte contemporânea de excelência, constituído por obras que brilham sob o sol e a sombra do jardim e que também se organizam em modernas galerias espalhadas por 140 hectares. O que se vê é uma íntima interlocução entre Arte e Natureza que enche os olhos e desperta a alma para boas e profundas reflexões. A correria do dia-a-dia urbano revelou-se, quando submergia da minha memória recente, algo absolutamente desprovido de sentido. A grandeza de Inhotim me provocou rever meus vazios. Doeu. Mas me elevou.
É no inverno que mais se aprende sobre o verão
Quando falta a luz que desenha todo contorno
E o dia se alonga
E o perfume é cítrico
E a vida faz barulho.
É no inverno que o verão é criado
No tempo parado dos livros aninhados no chão
Na espera de muitos sóis e desejos frouxos.
Quando eu olho para o que eu ainda não pude ver, eu vejo montanhas… altas, abraçadas e tranquilas.
“Árvores, galhos e outros ramos” é um projeto de Artes Integradas, premiado no Edital ProAC n.o 40/2017, de autoria compartilhada entre Grace Donati – esta blogueira aqui – e André Marques. Construído sobre o diálogo contínuo entre a Ciência, a Poesia, as Artes Visuais, o Teatro e a Performance, o projeto é a exaltação das árvores, desta vida quieta que nos permite existir. A Exposição está aberta à visitação na Galeria Municipal “Angelina W. Messenberg”, em Bauru, no interior de São Paulo. Visite a página do projeto no Facebook: Árvores, galhos e outros ramos no Face. Ouça algumas poesias declamadas em nosso canal do Youtube:
Canal do Projeto “Árvores, galhos e outros ramos”
Corta o rio
Vence a ponte
Pula a poça
Vai à fonte
Corre o trilho
Sobe a escada
Anda a trilha
Faz a estrada
Salta a lama
Pisa a terra
Pega a folha
Ri da queda
Sopra o corte
Sente a chuva
Beija o vento
Sorte a sua.
Tem poesia aqui e ali
Há pássaros gorjeando, como existe vento ventando
Tem terra molhada
Tem sol inclemente
Tem fala sonada
E gota pendente.
Tem poesia pertinho e adiante
Há menino tristonho, como existe banho morno
Tem chuva gelada
Tem luz de repente
Tem paz aninhada
E abraço presente.
Foto de Grace Cristina Ferreira-Donati, Monte Verde – MG