Mulheres com asas

Há muitos anos, num dia em que me senti especial por ser mulher, escrevi uma poesia simples, imperfeita, quase boba, mas honesta. Hoje, em meio a mulheres fortes e altivas, rememorei a mesma sensação e a poesia que registrou um dia antigo. Com todas as mulheres, compartilho minha lembrança.

img_1916Se as mulheres tivessem asas
Nossos sonhos voariam mais alto
Com a sedução da natureza feminina
Os devaneios do real seriam castos.

Se as verdadeiras mulheres voassem
Voariam nossos anseios certos
Viajariam as sementes dos fatos ideiais
E colheríamos na vida sonhos nossos secretos.

Se as mulheres aladas fossem
Fosse a vida como fosse
Nos moldaríamos na leveza das asas que fogem no ar
Viveríamos na vida como no sonho se sustenta o sonhar.

 

The Angel” de William Baxter Palmer Closson (1848-1926)

Busca

Cristais meus
Dores minhas que caem
Vida minha que sai
Busque em ti fado amargo
Cores tuas que traem
Flores nuas que falem
Vida minha que vai
Liberte de ti medo que te distrai
Peso louco se esvai
Riso pouco aceitai
Contemple na fé
Fontes bentas de mais
Pontes feitas de vais
Contas poucas de mas.

Saudades minhas

Saudades de quando a felicidade roubava meu sono
De quando ela me tomava ao despertar
E ilustrava em meu rosto sua luz.
Ah, saudades de quando a vida era coisa fácil de se ter
De quando o dia se repetia na alegria simples de nascer.
De quando a mania de chorar era rara e boba, curta e fácil.
Saudades minhas as minhas dores agudas e duras
De ser de um jeito que já foi
De ser feliz como não dá
De ser aquela não fui.

Ansiedade despedaçada II

“Frestas das escolhas que me apertam permitem que a persistência me afilja e me salve. Trazem-me sem medo para os erros e insistem que eu respire pouco, mas com louco e certo amor.”

“Nem tudo é tão reto… Nem tudo tudo é certo. Nem sempre é tão fácil julgar o óbvio. A luz pode sempre esconder a poeira em sua sombra. E só os que não vêem enxergam no escuro.”

“Tensas partículas caem densas por aí. Espalham ruídos e redemoinhos vazios apenas para enfatizar o movimento das coisas, a repetição da natureza e sobrepujar o que é ímpar e singular.”

Contrariedades

Há dores que não se mostram
Como há amores que não se afagam
Como há horrores que não se contam
E estertores que não calam.

Há corações que não se abalam
Como há proteções que não se bastam
Como há florações que não encantam
E intenções que não falam.

Há crises que não se deflagram
Como há reprises que não se confirmam
Como há lides que não se travam
E revides que não gritam.

Vazio

Às vezes, sinto um vazio tão grande
Da grandeza de um gigante
Profundo, vasto, incerto, errante.

Às vezes, sinto este vazio no peito
Impiedoso, do coração faz leito
Bagunçado, errado, nó em contrafeito.

Às vezes, sinto no vazio o tempo
Ansioso, em oração refeito
Escasso, um rastro, tal ar rarefeito.

Às vezes, sinto um vazio pungente
Da agudeza da dor da gente
Intenso, denso, ausência inclemente.

Dia Mundial da Paz

A breve reflexão é de julho de 2015 e teve por inspiração o filme sueco-dinamarquês Haevnen, de Susanne Bier. Hoje, porém, no Dia da Confraternização Universal ou Dia Mundial da Paz, ganhou maior sentido.

O que fazem as pessoas de suas próprias raivas?

Vejo algumas pessoas, embalando sua raiva, com meticuloso e preciso movimento como se criassem esferas com massa de modelar… E guardando-as. Outros a disseminam em doses homeopáticas de aspereza, e ostetam, mesmo silentes, generosa artilharia.
Vejo algumas outras pessoas vaporizando a própria raiva, transformando-na em éter, tentando a segurança da invisibilidade.
Algumas pessoas a embalam, outras a sufocam, outras a seguem e algumas poucas a transformam… De pulsão de dor a pulsão de amor. “Eu aceito, entrego, confio e agradeço”. E assim, uma cor é levada a ser outra. Um movimento flui para outro, vertendo-se em vida nova, em transformada vida.

O que você tem feito de suas raivas?