Há dias em que é preciso viver
Das flores que se colhe
Das cores que pingam
E fazem folhas no papel
Das flores que eu colhi
Foi mais sutil me ver brotar.

Há dias em que é preciso viver
Das flores que se colhe
Das cores que pingam
E fazem folhas no papel
Das flores que eu colhi
Foi mais sutil me ver brotar.
Nesta tarde eu me detive a observar, por alguns minutos, Caravaggio pintando São João. O santo ficou em minha cabeça e se misturou com as cores das festas juninas do nordeste brasileiro (acho que é ainda efeito do show Arraial de Gil veiculado online recentemente e que enterneceu meu coração enquanto durou). Numa época sem festa alguma, sem comemorações, criei um caminho para São João passar.
Um cinza de fundo… e cores ao vento.
Ela é uma mulher de 70 anos, minha tia querida e amada, que sempre me cuidou como uma mãe cuida e zela por um filho. Neusa convive com uma malformação cortical, que lhe impõe algumas restrições de mobilidade, funcionalidade e comunicação. Ela sobrevive ao seu próprio corpo e usa-o, como pode, para se ser livre, produtiva, independente e feliz. Há, relativamente pouco tempo, Neusa descobriu a aquarela pelas mãos do querido amigo André Marques que lhe presenteou e ainda a presenteia com tinta, canson, pincéis e godet. Muito mais que isso, André ofereceu à Neusa uma nova forma de expressão, uma significativa ampliação das linguagens que podem traduzir o que pensa e sente. Com quase nenhuma instrução, o que essa artista tem feito é fazer desabrochar no papel as flores de múltiplas cores do lugar onde vive. Com pinceladas fortes como ela, a gente enxerga fácil toda uma variedade de flores de maio – suas preferidas -, além de dálias e muitas florzinhas sem nome e muito charme. Pela primeira vez no blog, apresento algumas reproduções de suas aquarelas.
Aquarela sobre canson 200, 21,0 x 29,7
Aquarela sobre canson 200, 21,0 x 29,7
Aquarela sobre canson 200, 21,0 x 29,7
Aquarela sobre canson 200, 21,0 x 29,7
Acho que ele preferiu o silêncio hoje, para escutar seus pensamentos.
Parece gente, parece árvore… multidão ou floresta, solidão ou comunhão do bando sozinho, que olha sabe Deus pra onde.
“Bosque”, de Grace Donati. Aquarela sobre papel Paraty Mirim Moinho Brasil (bagaço de cana de açúcar branqueada) 150 gr.
Pelas crianças órfãs, vítimas da ganância humana e que vivem em zonas de seca extrema.
“…só há vida ao longe, os olhos alcançam o céu distante. Há sequer em seu coração esperança pela chuva deste azul?”
“Filhos da terra”, Grace Ferreira-Donati. Aquarela sobre canson 300g, 20 cm x 29,5 cm.