Sede

Tenho uma sede de vida
Que me atira sem vagar ao dia
Me põe à beira de tudo
Me lança em mais poesia

Tenho vontade profunda
Daquela que desperta à noite
Palpita forte o coração
Vem sem fim, nem fonte

Tenho o desejo do mundo
Que me laça fugaz num mergulho
Faz folia na razão
Me arrasta num segundo

Tenho uma sede de vida
Que me atira sem vagar ao dia
Me põe à beira de tudo
Me lança em mais poesia.

Negativas

Não te aprisiones a ti mesmo
Espalha-te.
Não te atormentes ao ruído alheio
Aquieta-te.
Não te protejas do amor que recebes
Envolva-te.
Não te apresses no peito que acolhe
Repousa-te.
Não te condenes ao rigor servil
Alegra-te.
Não te abandones ao olhar vil
Proteja-te.
Não te dediques à língua que fere
Apazigua-te.
Não te julgues ao contorno que tolhe
Perdoa-te.
Não te negues o toque que envolve
Permita-te.
Não te alongues na dor da memória
Cura-te.
Não te esqueças na vida
Leva-te.
E se puderes te aceitar
Revela-te.

O tempo

De 20 de agosto de 2014

Um dia, serei amiga do meu tempo
Só farei coisas que o agradam
Cuidarei da sua vida com zelo
Como quem carrega o último copo d’água.

Um dia, viverei o tempo com a economia do cuidado
Com a delicadeza, a gentileza do compromisso
Exercitando o uso consciente do valor
Do que se estima tanto por ser inestimável.

Meu tempo, hoje, não se flete às minhas vontades
Não se dobra ou se contamina
Não me pertence. E, em seu rigor,
Manejado pelo vazio, me arrasta.

Sobre sensações

Sim, há quem consiga neste mundo apenas sentir. Sem pensar, nem medir, sem refletir todo o tempo e filtrar. Sem modelar ou fingir, sem conter ou pesar. Dentre tantos, há os que percebem o que a maioria não sente. São os que absorvem a magia do invisível, as sensações do pulso do mundo.

Às pessoas que vivem no espectro das hipersensações, a muitas das crianças com autismo, relembro um pouco de alguém que também sentia muito.

Os Meus Pensamentos São Todos Sensações, de Alberto Caeiro (Fernando Pessoa)

Sou um guardador de rebanhos.
O rebanho é os meus pensamentos
E os meus pensamentos são todos sensações.
Penso com os olhos e com os ouvidos
E com as mãos e os pés
E com o nariz e a boca.
Pensar uma flor é vê-la e cheirá-la
E comer um fruto é saber-lhe o sentido.
Por isso quando num dia de calor
Me sinto triste de gozá-lo tanto.
E me deito ao comprido na erva,
E fecho os olhos quentes,
Sinto todo o meu corpo deitado na realidade,
Sei a verdade e sou feliz.

Ser poeta é ser mais alto, de Florbela Espanca

Ser poeta é ser mais alto, é ser maior
Do que os homens! Morder como quem beija!
É ser mendigo e dar como quem seja
Rei do Reino de Aquém e de Além Dor!

É ter de mil desejos o esplendor
E não saber sequer que se deseja!
É ter cá dentro um astro que flameja,
É ter garras e asas de condor!

É ter fome, é ter sede de Infinito!
Por elmo, as manhãs de oiro e de cetim…
É condensar o mundo num só grito!

E é amar-te, assim, perdidamente…
É seres alma, e sangue, e vida em mim
E dizê-lo cantando a toda a gente!

Fonte: http://www.escritas.org

A uma mulher que, na rendição completa às palavras, amou, amou, amou.

 

Eles

Ela sonhou acordada e dormiu em pé
Ele alargou seu espaço e madrugou até
Ela teve na garganta a dor da alma
Ele extravasou no rosto uma lição de calma
Ela se exauriu para não ser quem é
Ele se eximiu pelas falhas da outra fé
Ela coloriu riscos fortes e desalinhados
Ele descobriu mais acordes desafinados
Ela rodopiou caiu e levantou
Ele se curou e fortemente caminhou
Ela escreveu destas e de outras tantas linhas
Ele carregou metas e ideais com uma família
Ela se assumiu poeta e transfigurou a perfeição
Ele se pôs mudança e deu pra si meditação
Ela ainda sonha acordada e dorme em pé
Eles alargam espaços e se amam até.

Homo pensants

Já estou cansado de mudar as minhas rotas de esquecer as minhas metas de esconder minhas derrotas de crescer por códigos beta e de forçar a entrada em alfa de desistir de pisar grama. Já estou farto de querer malhar sorrisos esquecer meu ex-abrigo e morrer de frio nas camas que não me sustentam mais. Estou cheio do vazio inconsistente da miséria insistente do meu luxo não vulgar. Quero cheirar lixo pra parecer gente. Tomar banho pra esquecer meu perfume que mente. Andar descalço pra sentir doer minhas bases pra fazer arder meus pés e ver gritar meus músculos pra sentir de volta a vida pra poder deixar as coisas que eu já tenho e que me enojam. Ir ao fundo para então submergir. Cair porque eu posso levantar. Tomar conta de perder porque eu preciso chorar pra sorrir. Me afundar em lama pra me sujar em água. Despencar no poço que não vai me abrigar. Perder para que eu sofra ao ganhar. Obter coisas fúteis que me fazem rastejar. Ganhar… o lixo que me escraviza e vender meu ar pra poder olhar meu eu… amar. O ridículo de mim quero ver ir embora pra matar de vergonha os ratos que me abraçam. Para que eu possa me sujar e então me sentir limpo. Pra poder viver.

Alegria, gratidão e fraternidade

imageGratus é uma plataforma social gratuita, desenvolvida na cidade de Marília (interior de São Paulo), que conecta pessoas interessadas em praticar a gratidão por meio da troca de experiências.

A palavra Gratus é natural do latim e significa gratidão, ou seja, a capacidade de se sentir agradecido por algo, de desenvolver sentimentos como empatia, compaixão, amizade, gentileza e amor.

Ao sentir empatia por alguém, somos capazes de reconhecer o que o outro fez de bom para nós e, também, de expressar e retribuir essas benfeitorias. A gratidão ocorre sempre que alguém faz algo que o outro gostaria que acontecesse, sem esperar nada em troca. Isso faz com que a pessoa que fez a ação se sinta feliz e a que recebeu também!

Acreditamos que a gratidão não é apenas um sentimento, mas uma experiência. Por isso, neste site, queremos conectá-lo a várias maneiras de exercer essa virtude.

Texto retirado da página do Gratus – fazer o bem te faz bem, no Facebook.


 

A esse grupo de pessoas especiais, a esta belíssima iniciativa e ao sentimento de fraternidade que luta por nos unir, um pouco de poesia.

Alegria

Para se alegrar é preciso tomar parte de um momento sublime
Lançar-se ao acaso e à imprevisão de alguém.

Para ser parte, é preciso abandonar-se de si
Colocar-se em meios e entornos, sem fazer refém.

Para abandonar-se, é justo despreocupar-se da própria agonia
Entregar-se ao amor puro e fraterno, sem temor e sem qualquer porém.