Era você na rua
Eu não tive dúvida
Não pelo que vi
Mas pelo alvoroço nos meus pensamentos
E o furor pondo batidas a mais no meu coração.
Não duvidei que você era o vento bagunçando cada fio de cabelo meu
E aquele raio de sol
E aquela gota de calor
E aquele perfume escapando da flor até mim.
Era você, eu sei
Que se fez de sorriso do menino
E me sorriu
E foi vida dentro da vida minha
Um segredo meu
Dançando pelos meus corredores vazios.
Amor
Amar vasto
Na carência do alento e do calor sobre o peito Sem o essencial e a frugalidade Sem nada Reserva-se ao homem amar. Amar tanto Amar em porções Amar vastidões É para o que se presta o ar Que infla de recomeços o corpo Que espera tremer de amor.
Sentir em curtas XXVI
“Eles estavam andando de mãos dadas pela alameda coberta de folhas secas quando o vento soprou, alterou o perfume da tarde e desorganizou todas as ideias que pendiam tensas e amedrontadas dentro dela.”
Tarde de amor perfeito
“Naquela tarde eu fechei os olhos e sonhei que vivia uma história muito bonita… uma história de amor, com todos os desatinos e as tempestades de uma história de amor. Por alguns instantes eu esqueci a obrigação da sensatez e do equilíbrio e me entreguei a um mundo de sensações e êxtase que rompeu a ordem do tempo e da minha realidade cinza… Imaginei um homem e uma vontade. Coloquei entre eles a minha presença sequiosa de carinho e pintei um cenário de cores fortes para me deitar. Estiquei o meu corpo no dele, aquietei minha ansiedade e vivi as iniciativas do calor. Senti a severidade do correr do tempo pulsando nos meus braços e depois a tristeza que me leva a sonhar minha imaginação fértil, fruto de mais um dia sem ninguém…”
14 de abril de 2002
Alimentar é materno
Cabe ao verbo a ação. A velocidade à luz. A medida à razão. É assim… a cada coisa cabe ser o que se é. A cada um, a dor e a delícia…
Cabe à criança brincar e se lambuzar de vida. Sorver das mães que lhe adotam o leite e a melhor energia. É para além da nutrição do corpo que uma mãe é mãe para o seu filho. É para preenchê-lo deste sopro, desta chama infinita que é o amor.

Virgem do Leite, 1500-1525, Mestre dos Túmulos Reais – Mosteiro do Lorvão. Museu Nacional de Machado de Castro, Coimbra – Portugal. Foto de Grace Donati
Um pedaço de calma
Você tem de mim um pedaço de alma
O ponto que reluz
Livre e que vaga solto
E sabe que basta existir
Nada mais
Você tem de mim um pedaço
Da luz
Que reluz do meu riso
Sem juízo
Azul
Você tem de mim um pedaço da calma
De me bastar
E de me ganhar
Pra mim inteira
Sossegar.
Vem
Conta um segredo que me core a face
Que me amoleça
E me deixe fácil.
Faz do meu gozo o vício
Que me sequestra a calma
E me faça laço.
Pulsa em mim o desejo
Que me acenda a graça
E me torne abraço.
Tatua em meu corpo o insuspeito
Que grita em seu peito
Eu inteira em pedaços.
Viciada
É lambusada de você
Que me reconheço eu.
Sussurrada
Desmanchada
Escorrendo em sua pele
Viciada.
Dream
I had a dream about your lips
Touching my skin
Announcing some secrets
And planning tricks.
I had a dream about your eyes
Scanning my soul
Discovering some lies
And finding awards.
Cura
Daí você vem
E porque vem
Minha fuga
Porque respira
Me ajuda
Porque me olha
Me cura.
Daí você é
E porque é
Minha pluma
Porque existe
Me cuida
Porque não desiste
Sou sua.