Se mesmo vendo, buscando reparar… não basta aos olhos a luz… ponha-se cor ao toque, com maciez e volume acariciando o coração.

Se mesmo vendo, buscando reparar… não basta aos olhos a luz… ponha-se cor ao toque, com maciez e volume acariciando o coração.
Menino com gaita
Doçura que fala
Valsa na sala
Surpresa que cala
Abraço que aperta
Toque que alerta
Palavras na tela
Careta que alegra
Imagem na mão
Pezinhos no chão
Amor de irmão
Voz e violão
Inocência em lista
Aprendiz de pianista
Quadro de artista
Tanta conquista!
Um querido amigo está fazendo um curso a distância sobre gestão de riscos. Conversando a respeito do seu conteúdo, notei que o curso pode ser algo muito perigoso. Digo isso porque as orientações fornecidas para identificar e manejar situações de risco põem em xeque a busca pela vida espontânea, ingênua e simples. A vida é feita de riscos. É arriscado viver. É, de fato, um perigo palpável e repetido manter-se vivo. Posso presumir que o programa instrucional pretende levar seu educando a desenvolver habilidades para manter-se a salvo, em segurança e prevenir a deflagração de situações arriscadas e suas incontroláveis consequências. É possível que o curso ensine sobre prevenção de perdas documentais, deleção de informações e como evitar incêndios. É provável que trate da identificação de tipos suspeitos, da revelação da malícia humana. É irremediável, no entanto, que conclua sua inabilidade em professar sobre a periculosidade de se viver cada dia um novo dia. Parece mais ingênuo do que o destemido. Parece inocência a criação de um manual para prevenir as oscilações irremediáveis do cotidiano, aquelas que nos assaltam e nos surpreendem, nos arrebatam e nos tiram o fôlego. Assim como o risco de nascer e permanecer. O risco de escolher isto ou aquilo e de lançar um olhar tímido para uma alma majestosa. O risco de não se render. O risco de ser feliz. Cabe mais risco ao risco da vida que nos presenteia sem promessas ou garantias? Cabe mais incerteza ao presente? Cabe mais ilusão à segurança? Cabe mais inocência ao controle?
Na maioria dos dias, gosto que eles sejam normais.
Sem sobressaltos, surpresas, desvios.
Dias normais me permitem viver o que o presente propõe, os instantes da serenidade.
Dias normais me incitam a olhar a vida na sua majestosa simplicidade, enxergar o que se repete, o que insiste e resiste à indiferença e à desatenção. Nestes dias, dou-me conta da realidade de ser minúscula, uma feliz partícula. E esta constatação encerra uma liberdade estrondosa.