Pequena história de uma biruta

Uma busca rápida em sites de pesquisa é capaz de nos informar, com linguagem pomposa, que biruta “é uma manga ou tubo de tecido, semelhante a um saco cônico, com a abertura mais larga presa a um aro e fixa a um mastro, e a outra, mais estreita, solta, que se enfuna quando o vento sopra, indicando, assim, a direção deste”. No entanto, após ter sido presenteada com uma biruta criativa e inovadora, é necessário acrescentar sentido à definição. Thiago, o personagem principal desta história e inventor da alegre biruta, fez de nosso encontro prosaico, uma poesia de expressão de saudades e entusiasmo, entregando-me o presente especial que trazia consigo, após uma revelação lenta e solene para o efeito de maior surpresa. Pousando olhos sorridentes sobre mim, deflagrou sua arte escondida: “É pra você! É uma biruta!”. E então, antecipando-se a qualquer manifestação da minha ignorância, acrescentou: “Serve para indicar a direção do vento. Assim, você sempre saberá para onde ir.” A biruta, construída com papel e moldada em formato cilíndrico ostenta grafismos de bela sensibilidade, com cores vibrantes e que se finda em tiras de crepon azul, que têm a enorme responsabilidade de me indicar para onde seguir. Thiago sugeriu que eu pendurasse a biruta em minha sala de trabalho para que sempre me lembre dele. E que a coloque ao vento, quando desejar descobrir para onde ele sopra. Sei, na verdade, que quando olhar para minha biruta, mesmo no interior protegido da minha sala, lembrarei que a direção a ser tomada deve ser aquela que me põe ao encontro de um outro alguém.

Todos os dias são meus

Como mulher que sou, permito-me antecipar o que a sociedade atribuiu como meu dia e me por a dialogar com todas as demais da minha espécie.

Querida,
Permita-se a franqueza de ser quem verdadeiramente é. Permita-se a autenticidade, a verdade dos seus cabelos bagunçados e da alma entrelaçada de dor. Permita-se colocar-se confortavelmente no mundo. Permita-se a risada escandalosamente solta. Permita-se evocar a insensatez e proclamar seu desejo aos ventos. Permita-se enterrar passados sombrios e experimentar novos rios, vidas a fio. Permita-se a singeleza e a delicadeza. Permita-se o grito dos limites, a solidez do basta-se. Permita-se tocar a vida em erros, defender seus acertos e erguer o queixo, sem medo. Permita-se a descrença e a fé ingênua, o desatino do momento, criar e manter segredos. Permita-se a queda. Permita paixão à própria solidão. Permita o perdão ao não. Permita voz a cada flecha atroz. Permita-se negar e fazer parar. Permita-se estar onde quiser estar. Permita-se calar e falar. Permita-se desagradar e amparar. E quando, por algum segundo, esquecer que é em si que deve estar, permita-se parar, recolher-se e voltar.

Um Casal de Ouro

Com enorme alegria, compartilho um poema sertanejo de autoria de Ercio Joaquim Ferreira, meu pai, que, como eu, mantém Minas Gerais em destaque no seu coração. Deliciem-se!!!

Um dia alguém me disse
Que o amor faz a união
O que conduz a família
Com Cristo no coração
Formando pessoas de bem
Por toda uma geração

O casamento se renova
Quando o amor é de verdade
Na certeza do amanhã
E dias de felicidade
Conduzindo a jornada
Com carinho e lealdade

Quero assim homenagear
Os meus parentes queridos
Pelos cinquenta anos
De casamento vivido
Que Deus sempre os abençoe
Irani e Aparecido

Ao casal peço licença
Pois eu preciso falar
Dos amigos e parentes
Que me fizeram encantar
Com a roda de viola
Cantando sobre o luar

À você Grace Cristina
Minha filha adorada
Companheira de viagem
Da tortuosa estrada
O meu respeito e carinho
Eita menina arretada!

O que dizer de Betinha
Com tantas qualidades
Digo que tu inspiras
Ternura e felicidade
Esposa e mãe carinhosa
Desprovida de maldade

Falar de João é fácil
Isto eu não posso negar
Pois o amigo é gente fina
Vocês têm que concordar
Só pratica o bem na vida
Eu pude testemunhar

Elton com sua presença
Alegrava o ambiente
Enquanto a Nice servia
Pãozinho de queijo pra gente
Com sabor de quero mais
E um gostoso café quente

Jane e Beto combinavam
Para ir lá no barzinho
Com todo o pessoal
Para tomar um caldinho
É gostoso por demais
Falou a mãe do Gutinho

Há muitos anos atrás
Conheci, ainda criança
Hoje, homen bem educado
Feliz, cheio de esperança
Eric, meu sobrinho adorado
Lute com perseverança

Charles e Lane, um par discreto
Mas sempre bem carinhoso
E Verônica curtia
Um almoço bem gostoso
Enquanto Giovana tomava
Um cafézin delicioso

Juninho sempre disposto
A nos acompanhar
Seja em uma caminhada
Ou para degustar
Um lanchinho suculento
No recinto de um bar

Vendo o Gutinho brincando
Com saúde e muito vigor
Senti a presença de Deus
Abençoando com amor
Este ser tão pequenino
Obrigado, meu senhor!

Tidinho não se intimida
Com a adversidade
Ele sempre se fez forte
Diante da realidade
Transpondo todas barreiras
Da cruel desigualdade

Lúcia, como agradeço!
Pela sua existência
E por ter nos recebido
Em sua residência
Curvo-me diante de ti
Pela sua competência

Liu, sempre atenta
Junto de seu maridão
Nisso, dona Iraci
Preparava no fogão
Um arroz com pequi
E um tutu de feijão

Isabela, moça linda
O seu futuro está perto
Muito bem amparada
Desenvolve o seu projeto
Na área da arquitetura
O sucesso é mesmo certo

Para falar desta família
Eu vou ter que rebolar
Irei buscar inspiração
E espero encontrar
Lindas palavras de amor
Para a eles ofertar

Ismael, meu caro amigo
Você canta como ninguém
Conhece muito de música
E toca muito também
Fazendo a felicidade
Deste povo do bem

Lurdinha esposa e mãe
Lurdinha cantora sertaneja
Lurdinha da voz de ouro
Lurdinha de grande beleza
Lurdinha rainha do lar
Mulher de muita nobreza

Sandra de olhar penetrante
Da cor morena mineira
De sorriso estonteante
Linda mulher faceira
És a própria luz do dia
És o vento sem fronteira

Para a Fernanda e a Flávia
Eu quero desejar
Saúde e muita alegria
Para o vosso caminhar
Que Cristo as proteja
No aconchego do seu lar

Quem está apaixonado
Levante os braços
Se apaixone pela vida
É este pedido que faço
Com amor e lealdade
Você evita o fracasso

Até breve, Minas Gerais!
Até breve, Rubelita!
Um dia volto a rever
Esta terra tão bonita
Para matar a saudade
Dos amigos que lá ficam

Que Deus abençoe
Esta gente fagueira
Por ter-me recebido
Nesta cidade mineira
Aceite o abraço fraterno
De Ercio Joaquim Ferreira

Minas Gerais, por uma paulista.

imageConheço pouco Minas Gerais, o suficiente para manter uma paixão, irremediável e sem explicação. Não nasci em Minas, mas procuro mantê-la em mim. Então, depois de viver intensamente em terras mineiras por seis dias, tentarei repercutir o que vai dentro do meu peito agora.

Gosto da simplicidade da gente, do descompromisso com a tristeza. Gosto de como as montanhas se aglutinam, formando veios e caminhos. Gosto do alimento saboroso, dos aromas extravagantes que sequestram a família para o fogão. Gosto da calma e da alma. Gosto da serra e do que se apresenta aos seus pés. Gosto da neblina que esconde os vales. Gosto do arrastar das sandálias ritmando a sanfona. Gosto da viola e do violão, da batida e do ponteio, do amor choroso da canção. Gosto da vida solta e suficiente. Gosto da benevolência nos cantos e do germinar seco das sementes. Gosto da fé nos santos e nos labores tantos. Gosto do brilho da pele tingida do sol. Gosto do charme sem jeito e insuspeito. Gosto da fala mansinha e do olhar fagueiro. Gosto da carência até. Gosto da dança colada e suada. Gosto dos horizontes infinitos e de como os dias se revelam lindos. Gosto das sinuosas estradas. Gosto da espontaneidade das rodas. Gosto dos uais e dos luais. Das palavras e das alegrias sem rodeios e sem finais.

O amanhecer de memórias sem iguais das minhas Minas Gerais. Não falta mar nas Gerais. Há pureza em todo canto, na serra e nos uais. Há beleza em todo vale, na luz da aurora e nos luais.