Se mesmo vendo, buscando reparar… não basta aos olhos a luz… ponha-se cor ao toque, com maciez e volume acariciando o coração.

Se mesmo vendo, buscando reparar… não basta aos olhos a luz… ponha-se cor ao toque, com maciez e volume acariciando o coração.
Para dias cinzentos, recomendo plantar cores.
Eu tenho uma pasta pública no Pinterest intitulada Urbanidades. Ela reúne imagens incríveis, às vezes engraçadas, às vezes sensíveis, provocadoras, cheias de crítica, cor e poesia. Sou encantada pelo modo como as pessoas podem interferir no espaço urbano, provocando reflexões e espalhando beleza. O belo cuida da alma! Eu fiz uma seleção para compartilhar este olhar por aqui:
NOTA: Todas as imagens foram encontradas no Pinterest, considerando a alta taxa de compartilhamento das imagens, não foi possível fazer a atribuição de créditos com segurança. Agradeço qualquer contribuição para a citação correta de autoria das imagens fotográficas.
Há dias em que é preciso viver
Das flores que se colhe
Das cores que pingam
E fazem folhas no papel
Das flores que eu colhi
Foi mais sutil me ver brotar.
Ela é uma mulher de 70 anos, minha tia querida e amada, que sempre me cuidou como uma mãe cuida e zela por um filho. Neusa convive com uma malformação cortical, que lhe impõe algumas restrições de mobilidade, funcionalidade e comunicação. Ela sobrevive ao seu próprio corpo e usa-o, como pode, para se ser livre, produtiva, independente e feliz. Há, relativamente pouco tempo, Neusa descobriu a aquarela pelas mãos do querido amigo André Marques que lhe presenteou e ainda a presenteia com tinta, canson, pincéis e godet. Muito mais que isso, André ofereceu à Neusa uma nova forma de expressão, uma significativa ampliação das linguagens que podem traduzir o que pensa e sente. Com quase nenhuma instrução, o que essa artista tem feito é fazer desabrochar no papel as flores de múltiplas cores do lugar onde vive. Com pinceladas fortes como ela, a gente enxerga fácil toda uma variedade de flores de maio – suas preferidas -, além de dálias e muitas florzinhas sem nome e muito charme. Pela primeira vez no blog, apresento algumas reproduções de suas aquarelas.
Aquarela sobre canson 200, 21,0 x 29,7
Aquarela sobre canson 200, 21,0 x 29,7
Aquarela sobre canson 200, 21,0 x 29,7
Aquarela sobre canson 200, 21,0 x 29,7
A Arte é verdade e é falsidade, ou realidade e irrealidade. Esta ideia oferece-nos, per se, elementos sobre o caráter do que é a Arte, que, na verdade, se concebe na ficção.
GONÇALVES, Carla Alexandra. Para uma introdução à Psicologia da Arte: as formas e os sujeitos. Lisboa: Edições 70, 2018, p. 55.
Na semana passada eu estive, pela primeira vez, em Inhotim, o belíssimo Instituto de Arte Contemporânea e Jardim Botânico que fica em Brumadinho, Minas Gerais. Reconhecido como uma OSCIP (Organização da Sociedade Civil de Interesse Público) pelo Governo de Minas Gerais e pelo Governo Federal, o local tem um acervo de arte contemporânea de excelência, constituído por obras que brilham sob o sol e a sombra do jardim e que também se organizam em modernas galerias espalhadas por 140 hectares. O que se vê é uma íntima interlocução entre Arte e Natureza que enche os olhos e desperta a alma para boas e profundas reflexões. A correria do dia-a-dia urbano revelou-se, quando submergia da minha memória recente, algo absolutamente desprovido de sentido. A grandeza de Inhotim me provocou rever meus vazios. Doeu. Mas me elevou.
Parece gente, parece árvore… multidão ou floresta, solidão ou comunhão do bando sozinho, que olha sabe Deus pra onde.
“Bosque”, de Grace Donati. Aquarela sobre papel Paraty Mirim Moinho Brasil (bagaço de cana de açúcar branqueada) 150 gr.
Colagem da artista ucraniana Anna Bu Kliewer
No momento em que Fayga Ostrower discorre a respeito da elaboração do trabalho criativo, ela diz:
“No trabalho, o homem intui. Age, transforma, configura, intuindo. O caminho em toda tarefa será novo e necessariamente diferente. Ao criar, ao receber sugestões da matéria que está sendo ordenada e se altera sob suas mãos, nesse processo configurador o indivíduo se vê diante de encruzilhadas. A todo instante, ele terá que se perguntar: sim ou não, falta algo, sigo, paro… Isso ele deduz, e pesa-lhe a validez, eventualmente a partir de noções intelectuais, conhecimentos que já incorporou, contextos familiares à sua mente. Mas, sobretudo, ele decidirá baseando-se numa empatia com a matéria em vias de articulação. Procurando conhecer a especificidade do material, procurará também, nas configurações possíveis, alguma que ele sinta como mais significativa em determinado estado de coordenação, de acordo com seu próprio senso de ordenação e o próprio equilíbrio.”
OSTROWER, F. Criatividade e processos de criação. Petrópolis: Vozes, 2014. pag. 70.
O pensamento externalizado de Fayga, neste excerto, expõe a confusão irremediável que se cria entre nosso interior e os objetos de nossas ações, ao agirmos. Toda e qualquer matéria do fazer humano, seja a palavra, a música, o barro, a tinta, o corpo ou o cimento, se modifica impregnada de elementos intrapsíquicos, por meio de canais fluentes entre o homem e a matéria. Elementos que talvez adormeçam inacessíveis sem este contato. É verdade dizer que em sua obra, reside o artista.