Há tempos tenho permitido que minha sensibilidade se expresse no limite do imponderável. Não aprendi a viver protegida de mim mesma, do que sinto, ou penso, do que ouço ou vejo, do que clamo ou almejo. Vivo assim à beira de tudo, na batida do pulso e no mergulho incessantemente profundo. Deste jeito, sou mulher, filha, amiga, aprendiz e mestre, poetisa e falha, errada, imperfeita, torta, incompleta, imprecisa, incerta. Deste jeito sou, no trabalho coadjuvante cotidiano de ajudar pessoas a se construírem na vida. Mas tal feito não é trabalho quando é missão. Não termina em oito horas se for paixão. Não acata limites porque não admite esforços em vão. Assim, em meio a esta intensidade perene, efusões de amor, alegria e satisfação são forças que arrebatam ao piscar dos olhos. Mas, às vezes, no descontrole da doação de minha vida àqueles que me buscam e que me exigem, ponho-me alvo de desmedidos ataques, desmerecidos e implacáveis. Hoje, foi um dia assim. A violência respingou em mim. Fui alvejada por quem não domina a própria arma. E doeu, como é de doer quando se oferece o peito ao tiro. Informo, no entanto, que embora não tema novas violências, se você me agredir, será a única vez.