“Qual desejo teu colocarás sob a luz?”

Foto de Grace Donati
“Qual desejo teu colocarás sob a luz?”
“Naquela tarde eu fechei os olhos e sonhei que vivia uma história muito bonita… uma história de amor, com todos os desatinos e as tempestades de uma história de amor. Por alguns instantes eu esqueci a obrigação da sensatez e do equilíbrio e me entreguei a um mundo de sensações e êxtase que rompeu a ordem do tempo e da minha realidade cinza… Imaginei um homem e uma vontade. Coloquei entre eles a minha presença sequiosa de carinho e pintei um cenário de cores fortes para me deitar. Estiquei o meu corpo no dele, aquietei minha ansiedade e vivi as iniciativas do calor. Senti a severidade do correr do tempo pulsando nos meus braços e depois a tristeza que me leva a sonhar minha imaginação fértil, fruto de mais um dia sem ninguém…”
14 de abril de 2002
Conta um segredo que me core a face
Que me amoleça
E me deixe fácil.
Faz do meu gozo o vício
Que me sequestra a calma
E me faça laço.
Pulsa em mim o desejo
Que me acenda a graça
E me torne abraço.
Tatua em meu corpo o insuspeito
Que grita em seu peito
Eu inteira em pedaços.
Eu quero o pulso
O riso
O súbito.
Quero o peso
O gozo
O ímpeto.
Eu quero o susto
O jogo
O lúdico.
Quero o erro
O sopro
O rústico.
E em querendo,
Quero a lembrança do seu cheiro
O olhar fagueiro
O amor inteiro.
Ela quer o querer do agora
Sem hora
Afora
O querer que aflora
Demora
E olha
Ela quer… querer
À forra
Cora
Ela quer o querer que acorda
E transborda
Mucosa
Ela quer a flora
A prosa
Rosa
Ela quer o querer, o agora
Sem hora
Maliciosa.
Ele é assim: intenso, verdadeiro, visceral. Renato, em uma das poesias que me permitiu reconhecer a força da minha correnteza sem direção.
Aquele gosto amargo do teu corpo
Ficou na minha boca por mais tempo:
De amargo e então salgado ficou doce,
Assim que o teu cheiro forte e lento
Fez casa nos meus braços e ainda leve
E forte e cego e tenso fez saber
Que ainda era muito e muito pouco.
Faço nosso o meu segredo mais sincero
E desafio o instinto dissonante.
A insegurança não me ataca quando erro
E o teu momento passa a ser o meu instante.
E o teu medo de ter medo de ter medo
Não faz da minha força confusão:
Teu corpo é o meu espelho e em ti navego
E sei que tua correnteza não tem direção.
Mas, tão certo quanto o erro de ser barco
A motor e insistir em usar os remos,
É o mal que a água faz, quando se afoga
E o salva-vidas não está lá porque não vemos.
Tenho uma sede de vida
Que me atira sem vagar ao dia
Me põe à beira de tudo
Me lança em mais poesia
Tenho vontade profunda
Daquela que desperta à noite
Palpita forte o coração
Vem sem fim, nem fonte
Tenho o desejo do mundo
Que me laça fugaz num mergulho
Faz folia na razão
Me arrasta num segundo
Tenho uma sede de vida
Que me atira sem vagar ao dia
Me põe à beira de tudo
Me lança em mais poesia.