Para que equilíbrio se com você eu quero o que me tira o chão?
Para que vício se na sua vida está o meu alívio?
Para que sempre se o meu pulsar pretende o nosso agora?
Para que sanidade se minha loucura me põe em suas mãos?
Para que proteção se é vulnerável que sorrio fácil?
Para que regras se tenho os beijos do seu improviso?
Para que acertos se você me humaniza nas falhas?
Para que certezas se é na dúvida que lhe tenho ávido?
Um encanto
Um recanto
Um regato
Um lastro
Um laço.
…
Um canto
Um regalo
Um retrato
Um alinhavo
Um compasso.
…
Um embaraço
Um contrato
Um retalho
Um abraço
Um passo.
…
Laço.
Em um evento realizado em novembro de 2016, o III Encontro Regional de Comunicação Alternativa ISAAC Brasil, pude traduzir meu envolvimento com a comunicação de pessoas com deficiências por meio de uma apresentação artística concebida para sensibilizar seus espectadores. Durante a organização do evento, sentia que precisávamos de mais do que palestras, indicadores científicos e relatos de experiências para tocar a mais profunda humanidade de quem assume parceria dialógica com alguém que não se comunica integralmente por meio da fala. Assim, surgiu “Silêncio Poemado”, construído, com a generosidade e a entrega, o talento e o amor de pessoas especiais. O áudio é uma parte da obra, agora disponibilizado neste post. Poesia para ouvir e sensibilidade para tocar.
Concepção artística: Grace Cristina Ferreira-Donati Montagem: Joana Calepso Texto: Poesias de Grace Cristina Ferreira-Donati, todas já publicadas no Verbogeren – Imagem poemada – Insterstício Um; Interstício Quatro; Interstício Dois; Interstício Três; Medo, Perdoa, Esperança, Sê Mâe, Sê Pai e Lugar Bom. Atrizes: Joana Calepso e Nicole Souza Vozes: Grace Cristina Ferreira-Donati, Joana Calepso, Nicole Souza e Wellington Santos Gravação e edição de áudio: Jaredis Souza Músicas (em ordem de ocorrência) de Yann Tiersen (Álbum EUSA, 2016): Penn Ar Lann, Hent IV, Enez Nein, Hent VIII, Penn Ar Lann.
Hoje, permitirei que sente ao meu lado
E olhe o vento ventar a folha que amarelou.
Hoje, permitirei que sinta o beijo que ontem não dei
E ouça o conto contar a história que não vingou.
Hoje, permitirei que toque meus sonhos
E ouça a música cantar a estrofe que perdoou.
Hoje, permitirei que espie o medo que eu não contei
E veja a lua luar o tempo que retornou.
Hoje, permitirei que deite em meu colo
E deixe o sonho sonhar a volta que imaginou.
Hoje, permitirei que tenha o abraço que não entreguei
E seja o mar a marejar os olhos que já amou.
Viva
Corra o mesmo risco de quem, descalço e infantil, inquieto e febril, ama.
Faça o mesmo riso de quem, entregue e servil, completo e gentil, ama.
Viva a lida fácil de quem, disposto a amar, incerto e feliz, ama.
Como alguém despido de temor e com ardor, ama.
Como além do viço do calor e com fervor, ama.
Com a vida toda em vigor, ama.
Apenas por ser vida
E pelo amor, ama.