Lendo a “Poesia Completa de Alberto Caeiro” (Fernando Pessoa, São Paulo: Companhia das Letras, 2005), com comprometimento total pela primeira vez, tenho me deparado com versos que fariam festejar o mais dedicado adepto do Mindfulness. É uma celebração do agora, do estado presente, dos sentidos, da percepção, do palpável, do que se alcança hoje. É uma mensagem que vai bastante além da valorização da natureza. Toca o que há de essencial na própria essência, o núcleo, o imprescindível. Na página 88, abrindo “Poemas Inconjuntos”, revela-se o poema antídoto da ansiedade. É só ler e reler…
“Para além da curva da estrada Talvez haja um poço, e talvez um castelo, E talvez apenas a continuação da estrada. Não sei nem pergunto. Enquanto vou na estrada antes da curva Só olho para a estrada antes da curva, Porque não posso ver senão a estrada antes da curva. De nada me serviria estar olhando para outro lado E para aquilo que não vejo. Importemo-nos apenas com o lugar onde estamos. Há beleza bastante em estar aqui e não noutra parte qualquer. Se há alguém para além da curva da estrada, Esses que se preocupem com o que há para além da curva da estrada. Essa é que é a estrada para eles. Se nós tivermos que chegar lá, quando lá chegarmos saberemos. Por ora só sabemos que lá não estamos. Aqui há só a estrada antes da curva, e antes da curva Há a estrada sem curva nenhuma.”