Conheço pouco Minas Gerais, o suficiente para manter uma paixão, irremediável e sem explicação. Não nasci em Minas, mas procuro mantê-la em mim. Então, depois de viver intensamente em terras mineiras por seis dias, tentarei repercutir o que vai dentro do meu peito agora.
Gosto da simplicidade da gente, do descompromisso com a tristeza. Gosto de como as montanhas se aglutinam, formando veios e caminhos. Gosto do alimento saboroso, dos aromas extravagantes que sequestram a família para o fogão. Gosto da calma e da alma. Gosto da serra e do que se apresenta aos seus pés. Gosto da neblina que esconde os vales. Gosto do arrastar das sandálias ritmando a sanfona. Gosto da viola e do violão, da batida e do ponteio, do amor choroso da canção. Gosto da vida solta e suficiente. Gosto da benevolência nos cantos e do germinar seco das sementes. Gosto da fé nos santos e nos labores tantos. Gosto do brilho da pele tingida do sol. Gosto do charme sem jeito e insuspeito. Gosto da fala mansinha e do olhar fagueiro. Gosto da carência até. Gosto da dança colada e suada. Gosto dos horizontes infinitos e de como os dias se revelam lindos. Gosto das sinuosas estradas. Gosto da espontaneidade das rodas. Gosto dos uais e dos luais. Das palavras e das alegrias sem rodeios e sem finais.
O amanhecer de memórias sem iguais das minhas Minas Gerais. Não falta mar nas Gerais. Há pureza em todo canto, na serra e nos uais. Há beleza em todo vale, na luz da aurora e nos luais.