Tribal – parte 1

A gente é de tribo.
Aqui é tudo índio
O desenho é na pedra
E é na dureza da pedra
E da terra
Que a gente vive
Aqui é tudo batida
De cajado no chão
Voz gritada
Pele suada
De dor calejada
Que a gente vive
Aqui é tudo luta.
A gente é da floresta
Ninguém desiste
Só luta e falece
A gente enterra faz festa
Faz prece e vive.
Aqui é tudo índio.
Tribal, caneta de aquarela e caneta gel, de Grace Donati

Minas Gerais, por uma paulista.

imageConheço pouco Minas Gerais, o suficiente para manter uma paixão, irremediável e sem explicação. Não nasci em Minas, mas procuro mantê-la em mim. Então, depois de viver intensamente em terras mineiras por seis dias, tentarei repercutir o que vai dentro do meu peito agora.

Gosto da simplicidade da gente, do descompromisso com a tristeza. Gosto de como as montanhas se aglutinam, formando veios e caminhos. Gosto do alimento saboroso, dos aromas extravagantes que sequestram a família para o fogão. Gosto da calma e da alma. Gosto da serra e do que se apresenta aos seus pés. Gosto da neblina que esconde os vales. Gosto do arrastar das sandálias ritmando a sanfona. Gosto da viola e do violão, da batida e do ponteio, do amor choroso da canção. Gosto da vida solta e suficiente. Gosto da benevolência nos cantos e do germinar seco das sementes. Gosto da fé nos santos e nos labores tantos. Gosto do brilho da pele tingida do sol. Gosto do charme sem jeito e insuspeito. Gosto da fala mansinha e do olhar fagueiro. Gosto da carência até. Gosto da dança colada e suada. Gosto dos horizontes infinitos e de como os dias se revelam lindos. Gosto das sinuosas estradas. Gosto da espontaneidade das rodas. Gosto dos uais e dos luais. Das palavras e das alegrias sem rodeios e sem finais.

O amanhecer de memórias sem iguais das minhas Minas Gerais. Não falta mar nas Gerais. Há pureza em todo canto, na serra e nos uais. Há beleza em todo vale, na luz da aurora e nos luais.