
Não há ninguém mais só
Que ela só.
Não há pessoa mais triste
E que mais insiste
Em ser além
De ser só.

Não há ninguém mais só
Que ela só.
Não há pessoa mais triste
E que mais insiste
Em ser além
De ser só.
Pelas crianças órfãs, vítimas da ganância humana e que vivem em zonas de seca extrema.
“…só há vida ao longe, os olhos alcançam o céu distante. Há sequer em seu coração esperança pela chuva deste azul?”

“Filhos da terra”, Grace Ferreira-Donati. Aquarela sobre canson 300g, 20 cm x 29,5 cm.

Se pudesse, ela dobraria cada segmento do seu corpo para escondê-los no buraco aberto em seu peito.
Naquele oco sem fundo, interminável, que se fizera marca nova da vida que escolheu seguir.
Os pés tortos, os joelhos apertados, as pernas contra o vazio contorciam o desejo de menos dor.
Para domar sua alma chorosa
Sequiosa de paz
E calor.
Fenestrada
Errada
Falha póstuma
Na alma chorosa a lástima
Ou o que a valha
Na penumbra
Destes dias compridos, infinitos e arredios.
Eu posso avistar um mar de silêncios
Nas poucas gotas que afogaram suas palavras.
Havia luz naquele espaço cinza onde vagueavam os sonhos perdidos.
Eu pude vê-la por um instante apenas. Mas eternizei seu brilho em minhas retinas, quando a esperança estava prestes a nos deixar.

O olhar estrito
À semente maldita
O temor do abismo
À verdade escondida
O pesar infinito
Na história ferida
O dissabor colhido
Da fidelidade invertida
O pulsar primitivo
Da presença vazia
O heroísmo vencido
Na aragem dos dias.
Ilustração de Eugenia`s College – fonte: obviousmag.org
Às vezes, sinto um vazio tão grande
Da grandeza de um gigante
Profundo, vasto, incerto, errante.
Às vezes, sinto este vazio no peito
Impiedoso, do coração faz leito
Bagunçado, errado, nó em contrafeito.
Às vezes, sinto no vazio o tempo
Ansioso, em oração refeito
Escasso, um rastro, tal ar rarefeito.
Às vezes, sinto um vazio pungente
Da agudeza da dor da gente
Intenso, denso, ausência inclemente.