Sobre o que Chihuly me provocou sentir

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Meses atrás, quando navegava pela cidade de Toronto, em devaneios pré-viagem, me deparei com a convidativa página do Royal Ontario Museum anunciando a exposição de Dale Chihuly, um escultor norte-americano que se fez mestre da arte com vidros. Confesso que meu entusiasmo foi instantâneo ao vislumbrar o poder e a fluidez das cores que davam vida às peças exibidas no site. O encanto imediato foi pela possibilidade de aguçar meus sentidos, bem mais que pela previsão de qualquer deleite intelectual.

Pois bem, eis que com os pés nas ruas quentes e agitadas do verão canadense, cheguei ao feliz destino, disposta a receber meu quinhão de beleza e cor. O que se deu nas duas horas seguintes são hoje as lembranças que quero compartilhar. Memórias de sensações, apenas. Sem crítica, análise ou mais delongas.

Assim que cruzei a porta de entrada, fui recebida por dois botes em tamanho natural e repletos de uma resplandescente luz que explodia em cores e diferentes formatos. Em um deles, esferas leves, brilhantes e coloridas pareciam simbolizar galáxias inteiras reunidas pelo meu olhar. No outro, os fios de vidro em diferentes tons de roxo, azul, rosa e lilás se entrelaçavam e se projetavam em movimento fugidio para o alto e me tomaram em hipnose por um tempo incalculado.

A partir daí, foi um passeio de estimulação visual que me alcançou em pontos escondidos do pensamento e da percepção. Todos os estados e sentidos da diferença era a mensagem que me chegava nos contornos de tantas cores, tonalidades, transparências, volumes e ângulos. Tudo posto na fragilidade e na dureza do vidro. A riqueza dos contrastes ia da leveza suspensa dos vidros coloridos no teto, passando pela vivacidade das chamas numa fogueira reta e quente e se espalhava pelas paredes como florescências raras em um pergolado branco. Se eu pudesse apenas abolir os significados das peças – coisa que a abstração humana nos impõe – eu poderia dizer que cheguei a perder meu senso de unidade por um momento, entregue à euforia sensorial da luz que se filtrava pelos vidros coloridos em tantas e variadas tonalidades, organizados de tantas diferentes formas e conjugações. A minha exposição àquelas obras fez festa em mim. Os movimentos helicoidais e combinados faziam dançar qualquer pensamento e transformava tudo em um sentir insistente e emocionado.

Quanta beleza paira no coração da diferença! Quanta paz se constrói pela reunião dos contrastes! Nos vidros derramados pelas salas da exposição de Chihuly toda a vida foi celebrada sem que se excluísse uma só cor ou geometria. Todas as possibilidades se arranjavam entre si, constituindo o universo espetacular da diversidade.

Foi assim, com a alma insuflada de luz e a cabeça entregue ao torpor das sensações que alcancei a sala final e atravessei a passos largos o estande comercial da exposição. Já tinha comigo muito mais do que eu havia ido buscar. E ao encontrar um espaço vazio, pude recobrar a respiração, a realidade e conhecer o que havia de novo em mim.

Exposição Chihuly – Royal Ontario Museum
100 Queens Park, Toronto, ON – Canada.

Fotos do arquivo pessoal de Grace Cristina Ferreira-Donati editadas em Piccolage.

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