Uma vez mais, Alberto Caeiro ensinando-nos a estar presente, a apenas ser limitados que somos ao que somos no segundo em que somos. A ansiedade que nos coloca num futuro que nada é porque não existe ainda e talvez nunca se assuma presente é uma insensatez.
Não tenho pressa. Pressa de quê? Não têm pressa o sol e a lua: estão certos. Ter pressa é crer que a gente passa adiante das pernas, Ou que, dando um pulo, salta por cima da sombra. Não; não tenho pressa. Se estendo o braço, chego exactamente onde o meu braço chega Nem um centímetro mais longe. Toco só onde toco, não onde penso. Só me posso sentar onde estou. E isto faz rir como todas as verdades absolutamente verdadeiras, Mas o que faz rir a valer é que nós pensamos sempre noutra cousa, E somos vadios do nosso corpo. PESSOA, Fernando. Poesia completa de Alberto Caeiro. São Paulo: Companhia das Letras, 2005.